Oito anos depois do desastre da barragem de Mariana

5 de novembro de 2023
8 anos de espera

Hoje faz oito anos que a barragem de Mariana entrou em colapso no Brasil e 40 milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos foram liberados no rio Doce. A tragédia resultou em um dos desastres ambientais mais devastadores da história do Brasil.

A lama se espalhou tão rapidamente que os habitantes não tiveram tempo de escapar, 19 pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas.

Oito anos depois, algumas das vítimas ainda não ouviram nada da BHP, a operadora da barragem. Nenhuma explicação, nenhum pedido de desculpas, nenhuma reparação.

Para marcar os oito anos de injustiça, abaixo estão oito relatos exclusivos das pessoas afetadas, mostrando o impacto que o desastre teve em suas vidas.

Ana Cristina de Oliveira

"Que Deus derrame suas bênçãos sobre a Terra". 

Oito anos depois do desastre da barragem de Mariana, Ana Cristina de Oliveira ainda espera por justiça. Ela é mãe do Cacique Peru, o chefe de uma comunidade indígena guarani chamada Aldeia Piraqueaçu. Os membros da Aldeia Piraqueaçu costumavam pescar no rio, que compartilhavam com a comunidade local. 

O colapso da barragem de Mariana liberou uma avalanche de lama com arsênico no rio local, destruindo as populações de peixes, antes tão apreciadas, com resíduos tóxicos.

O custo disso significa que eles só podem comprar uma fração do que pescariam anteriormente, o que teve um impacto devastador na comunidade.

Anderson Krenak 

"Vemos o rio como um membro da família que está em coma e com quem não podemos mais ter contato." 

Anderson está sobre os trilhos da ferrovia controlada pela mineradora Vale, que atravessa a terra indígena Krenak. 

Anderson não pode mais viver de acordo com esse modo de vida tradicional, que incluía a pesca e a caça.

"Não se trata apenas de obter uma compensação financeira, mas de enviar uma mensagem de que os mineiros não podem vir ao nosso país para causar danos." 

Cacique Roberto Carlos Silveira 

"Eu costumava ir ao rio todo fim de semana. Ficávamos lá o dia todo, tomando banho e brincando. Agora, não podemos pescar, não vamos mais lá porque temos medo de contrair doenças." 

O que antes era tradição para o Cacique Roberto Carlos Silveira, da comunidade Guarani da Aldeia Olho D'água, e sua família, agora se transformou em medo.  

Antigamente, o rio Doce era limpo e cheio de vida, mas agora os resíduos tóxicos correm pela água: "Temos medo de comer peixe e de ir à praia. Esse medo permanece na mente de cada pessoa. Esse medo não existia antes do desastre". 

Geraldo Dimas 

Geraldo já foi fazendeiro, ganhava a vida cultivando e vendendo colheitas, mas tudo isso mudou em 5 de novembro de 2015. Ele não pode mais comercializar e foi forçado a parar de cultivar desde o desastre da barragem de Mariana.

Até hoje, os efeitos da tragédia perduram para Geraldo e para a Comunidade Quilombola Santa Efigênia da qual ele faz parte.

O rio ainda está contaminado, as pessoas ainda estão desabrigadas, não podem mais beber a água e não podem mais cultivar como antes.

Neusa da Conceição Fraga Botelho 

Neusa é líder comunitária da associação Quilombola Santa Efigênia. Ela costumava ganhar a vida cultivando e vendendo legumes em Mariana, mas o desastre da barragem há oito anos mudou isso: "Fomos afetados de várias maneiras, tanto financeira quanto emocionalmente."   

Dois de seus parentes estavam perto da represa no dia em que ela desmoronou e, por sorte, escaparam de qualquer dano, mas a ansiedade permaneceu por muito tempo após o desastre: "Isso teve um impacto enorme".  

Na época do colapso, ela temia que os resíduos tóxicos chegassem a Monsenhor Horta, a cidade onde sua família morava, e hoje ela ainda teme que outra barragem possa ruir: "Não queremos sofrer outra perda".

Cacique Peru, Pedro da Silva 

"Sofremos nas mãos de empresas que nem sequer são do nosso país. Elas enganaram nossa comunidade." 

O Cacique Peru é o chefe da comunidade indígena Guarani chamada Aldeia Piraqueaçu.

Ele diz que o rio é visto como um Deus por sua comunidade: "Não poder acessar o rio representa uma perda de identidade cultural e de tradições". 

A forma como a BHP lidou com o desastre da barragem de Mariana foi um caso exemplar de irregularidade corporativa.

Dhombre Krenak 

Dhombre tem apenas 6 anos de idade, mas convive com os danos causados pelo desastre da barragem de Mariana desde o dia em que nasceu - danos à sua cultura, danos ao rio no qual ele deveria estar aprendendo a nadar e danos à terra onde deveria estar brincando. 

Seu pai, Itamar, disse: "Fomos extremamente afetados. Até hoje, nossos filhos não podem tocar o rio sagrado". 

Dhombre é filho do grupo Atorãn da comunidade Krenak. Ele nunca teve acesso à água limpa do rio Doce, que antes corria abundantemente. Ele só ouvirá histórias de como o rio era antigamente. 

Na Pogust Goodhead, ajudamos as vítimas do desastre a reabrir suas reivindicações nos tribunais ingleses, dando-lhes esperança de justiça e indenização no futuro.

No próximo ano, estaremos representando mais de 700.000 vítimas no Tribunal Superior de Londres contra a BHP e a Vale.

As ações da BHP não podem ser esquecidas, e as vítimas do desastre da barragem de Mariana devem receber justiça.

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