A BHP será represada?

3 de setembro de 2020

Em 5 de novembro de 2015, um deslizamento de lama devastador após o colapso da barragem de Fundão atingiu Mariana, no Brasil, destruindo cidades inteiras, dizimando o meio ambiente e destruindo tradições históricas, culturais e religiosas da região.

19 pessoas perderam a vida, toneladas de peixes morreram e mais de 600 km de cursos d'água foram poluídos no que é considerado o pior desastre ambiental do Brasil.

A causa desse colapso é supostamente a negligência da Samarco, a empresa de mineração que opera a barragem de Fundão, que foi criada para descartar os rejeitos tóxicos de minério de ferro da extração da mina.

A empresa é acusada de ignorar os sinais de alerta de que a barragem poderia se romper, em busca de maior crescimento e aumento dos lucros.

Nossa empresa, um escritório de advocacia internacional, está entrando com ações em nome de mais de 200.000 reclamantes (incluindo indivíduos, empresas, fundações, igrejas, municípios, empresas de serviços públicos e comunidades indígenas) contra a BHP Billiton, a empresa anglo-australiana coparticipante da Samarco, pelos danos decorrentes do desastre da barragem de Fundão.

Em 22 de julho, teve início um julgamento processual de 8 dias para determinar se os tribunais ingleses têm jurisdição para julgar a questão. Se o caso for decidido positivamente, um julgamento sobre os méritos considerará a responsabilidade da BHP em uma data posterior.

O cerne do desafio de jurisdição é se a Inglaterra é o foro apropriado para ouvir o caso ou se o tribunal deve suspender a questão em favor de procedimentos que busquem reparação no Brasil.

A Corte Inglesa considerará fatores, inclusive se a administração adequada da justiça exige a permanência na Inglaterra.

Essa investigação deve avaliar, na prática, se os requerentes terão acesso à justiça no Brasil e se o Brasil seria o foro natural para julgar o caso, levando em conta as questões de cortesia.

O acesso à justiça no Brasil é controverso. Embora o sistema jurídico brasileiro seja reconhecido em todo o mundo, o acesso real à justiça exige recursos rápidos e eficazes.

Os reclamantes argumentam que os casos no Brasil estão a muitos anos de serem concluídos, se é que serão, e que a Fundação Renova (um órgão de reparação privado, criado e administrado pelas próprias empresas) é ilegítima, ineficaz e obstrui a justiça.

Essas críticas não são apenas afirmadas por vítimas decepcionadas, mas são articuladas por ONGs, universidades, pela Defensoria Pública brasileira, bem como pelas Nações Unidas.

Como a BHP continua desafiadora em admitir a responsabilidade e parece ter uma postura meramente defensiva em relação à reparação, um processo na Inglaterra pode ser a única maneira de os reclamantes terem a oportunidade de obter reparação.

As reivindicações serão apresentadas de acordo com a legislação brasileira, que tem fortes proteções da legislação ambiental e ampla responsabilidade para empresas controladoras.

Entre as perdas sofridas pelos reclamantes estão: vida, saúde, propriedade, renda e lucro, modo de vida, tradições, práticas, costumes, patrimônio, água potável, segurança alimentar e ambiente seguro. Os danos são estimados em mais de £5 bilhões.

Os atrasos, obstáculos e desrespeito sofridos pelos requerentes da Barragem de Fundão nos sistemas atuais que controlam o acesso à indenização no Brasil exacerbam ainda mais o abuso de direitos.

Para reparar essas violações, o estado de direito exigiria recursos executáveis para os requerentes da Barragem de Fundão. Embora as indenizações pelas perdas sofridas ofereçam algum conforto e meios para reconstruir a vida, há uma importante consideração de interesse público de que a BHP, como a maior empresa de mineração do mundo, deve ter uma determinação de responsabilidade decidida.

A ausência de tal decisão deixaria incertezas quanto à imunidade aparentemente injusta de grandes empresas às custas de indivíduos e entidades brasileiras locais e inocentes, consolidando ainda mais a dinâmica de poder desigual das partes no caso, bem como perpetuando abusos de empresas multinacionais no Sul Global.

Essas empresas não devem ter liberdade para agir de forma impermeável, sem incentivo para tomar decisões responsáveis no futuro, enquanto buscam lucro e expansão a todo custo.

Com base nos fatos do caso, uma decisão de responsabilidade contra a BHP estabeleceria o cenário legal para desencorajar outros desastres futuros que, infelizmente, já ocorreram.

Com a aceitação da jurisdição pela Corte inglesa, é possível começar a criar uma mudança necessária para combater abusos e violações de direitos humanos.

Por meio de jurisdições com recursos e capacidade para exercer seu dever global de garantir a responsabilidade internacional em relação aos direitos humanos, espera-se que as multinacionais busquem suas responsabilidades em relação aos direitos humanos e não apenas suas aspirações de mercado.

Autor: Jade Weiner, Associada Sênior

Este artigo foi publicado pela primeira vez no Oxford Human Rights Hub

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