Três anos depois do desastre da barragem de Brumadinho, a TÜV SÜD enfrenta um processo de 400 milhões de euros

1º de fevereiro de 2022

No terceiro aniversário do colapso da barragem de Brumadinho, no Brasil, os advogados da Pogust Goodhead e Manner Spangenberg, que atuam em nome das vítimas do desastre, afirmam que as reivindicações apresentadas contra os órgãos reguladores de segurança alemães TÜV SÜD já atingiram mais de 400 milhões de euros.

Esta semana, o tribunal de Munique permitiu a inclusão de mais de 1.100 novos requerentes, elevando o valor do caso para os réus da TÜV SÜD.

O rompimento da barragem no Brasil, em 25 de janeiro de 2019, significou que cerca de 12 milhões de metros cúbicos de lama de minério altamente tóxica foram liberados, rompendo os escritórios da operação de mineração e atingindo em cascata as comunidades locais e os sistemas de água.

Resultando na morte de 270 pessoas, foi o segundo desastre humanitário e ambiental mais significativo no Brasil em menos de cinco anos.

Um caso histórico

Nesse caso histórico, Pogust Goodhead, representando as vítimas, está movendo uma ação contra a empresa de serviços alemã TÜV SÜD.

A TÜV SÜD certificou a segurança da represa, que não atendia aos padrões mínimos de segurança, e permitiu a continuidade da operação da represa e da mina, o que acabou levando ao desastre.

Três anos após o colapso, a população de Brumadinho continua a viver sob uma nuvem de resíduos tóxicos, vilas destruídas e água poluída.

Nosso caso foi iniciado perante o Tribunal Distrital de Munique I na porta legal da TÜV SÜD na Alemanha em outubro de 2019 em nome do Município de Brumadinho e da família de uma vítima e agora foi expandido para incluir todos os Requerentes.

Os requerentes estão buscando indenizações relacionadas ao desastre e uma decisão declaratória de que a TÜV SÜD é obrigada a compensar todos os danos futuros relacionados ao desastre - colocando a reivindicação na faixa de 400 milhões de euros.

Comentários dos principais advogados

Pedro Martins, representante dos Requerentes, disse: "Somos gratos ao tribunal por aceitar agora as mais 1.100 vítimas que representamos.

"Continuamos a acreditar plenamente em nosso caso e que a TÜV SÜD, como empresa cuja função é certificar a segurança desse tipo de atividade comercial, será responsabilizada pelas 270 mortes e pela destruição de famílias, meios de subsistência, comunidades e meio ambiente.

"Estamos ansiosos para levar nossos clientes mais perto da justiça em 2022."

O julgamento do caso foi adiado a partir de 1º de fevereiro, enquanto o tribunal concedeu a junção e convidou as partes a apresentarem explicações adicionais sobre questões selecionadas.

Jan Erik Spangenberg, do escritório de advocacia alemão Manner Spangenberg, foi nosso parceiro no caso. Ele disse: "Estamos agradecidos pela orientação da Corte e satisfeitos com o desenvolvimento do caso.

"Após a audiência e os resumos pós-audiência, as principais questões factuais e jurídicas estão claras e o caso está, em grande parte, pronto para uma decisão. A permissão do tribunal para expandir o processo a todos os Requerentes permite que centenas de vítimas participem desse caso histórico. Elas exigem e merecem uma determinação clara da responsabilidade pela perda de seus entes queridos."

"Os documentos mostram que a barragem não atendia aos padrões mínimos de segurança em duas das quatro categorias. É difícil entender como a TÜV SÜD pôde desconsiderar essas descobertas", continuou ele.

"Eles sabiam que os trabalhadores continuariam a trabalhar na mina e que a população de Brumadinho continuaria a levar sua vida cotidiana diretamente abaixo da barragem e no caminho da onda de lama tóxica."

Histórico do caso

Em 25 de janeiro de 2019, uma barragem na mina Córrego do Feijão, perto de Brumadinho, no leste do Brasil, entrou em colapso, resultando no que mais tarde seria conhecido como o desastre da barragem de Brumadinho.

A barragem era usada para armazenar rejeitos de minério de ferro, um resíduo tóxico das operações de mineração da gigante brasileira Vale SA. O rompimento da barragem fez com que 12 milhões de metros cúbicos de lama tóxica atravessassem os escritórios da operação de mineração da Vale antes de cair em cascata nas comunidades abaixo.

Como parceira contratada da Vale para a certificação de segurança da operação, a reclamação alega que a TÜV SÜD foi uma "assistente complacente da empresa de mineração", influenciada a certificar a barragem como segura porque queria "manter os negócios com esse importante cliente [Vale]".

Os Requerentes alegam que houve correspondência entre os funcionários da TÜV SÜD em maio de 2018, na qual os funcionários inferiram que a TÜV SÜD perderia seus negócios com a Vale se negasse a segurança de uma das muitas lagoas de sedimentação pertencentes à Vale, indicando pressão da Vale para que a TÜV SÜD assinasse a segurança da barragem.

Também foi constatado que a TÜV SÜD aplicava padrões de verificação de segurança que não correspondiam aos padrões internacionais. Eles usaram padrões de segurança que foram descritos como "ajustes de mercado", o que significa que, em comparação com os padrões internacionais, foram aplicados padrões de segurança mais baixos.

Os principais litígios relacionados a desastres ambientais no Brasil são extremamente ineficientes. A reivindicação afirma que os Requerentes não podem acessar a justiça adequada no Brasil porque "o sistema jurídico local é totalmente ineficaz, o que pode levar a décadas de espera por uma decisão". Eles também não podem acessar a justiça da Vale.

No entanto, a má conduta da TÜV SÜD significa que ela pode ser responsabilizada nos tribunais alemães em sua sede corporativa em Munique para indenizar as vítimas por danos de acordo com a legislação brasileira aplicável.

Tanto os promotores alemães quanto os brasileiros estão investigando separadamente os papéis da Vale e da TÜV SÜD no desastre sob o ponto de vista criminal. Entre as pessoas que estão sendo investigadas estão um diretor alemão da TÜV SÜD, que era o gerente responsável em campo no Brasil, e quatro especialistas da empresa.

Os advogados esperam uma rodada de novas apresentações por escrito em relação à recente união de mais de 1.100 Requerentes e uma nova audiência em meados de 2022, que é exigida pela lei processual alemã como consequência da união.

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