Vítimas da "cidade que está afundando" no Brasil recebem notícia positiva de que seu caso será ouvido na Holanda

22 de setembro de 2022

Pessoas de comunidades que foram prejudicadas por danos causados por minas de sal no norte do Brasil estão comemorando depois de garantir o direito de processar a empresa petroquímica Braskem nos tribunais holandeses.

Os reclamantes, que viram suas casas desmoronarem e os bairros desaparecerem sem conserto no município de MaceióAlagoas, devido à natureza da mineração da Braskem, estão um passo mais perto da justiça.

Representados pelo escritório de advocacia global Pogust Goodhead e pelo co-advogado local Lemstra Van der Korst, eles agora terão seu caso de indenização avaliado nos tribunais holandeses depois que a Braskem S.A., a maior empresa petroquímica do Brasil, não ofereceu uma reparação adequada e justa.

Quatro décadas de terremotos em Maceió

Os moradores da área têm assistido horrorizados à sua comunidade ser atingida por pequenos terremotos causados pela mineração subterrânea de sal nas proximidades há mais de quatro décadas.

Muitos foram evacuados para escapar dos muros, prédios e empresas que estão desmoronando, depois que as estruturas construídas sobre o terreno agora inseguro ameaçam cair ainda mais. Enquanto outros poucos permanecem, decididos a não aceitar as pequenas somas de dinheiro oferecidas pela Braskem para se mudarem.

O êxodo e o desmoronamento dos edifícios agora são evidentes nas imagens de cidade fantasma dos bairros, que antes abrigavam centenas de pequenas empresas.

A Braskem ofereceu o que os advogados dizem ser somas injustas de indenização depois de ter sido obrigada a remover famílias das zonas de perigo "vermelhas" na área, mas não aceitou a responsabilidade.

Além disso, as ofertas de "danos morais" da empresa foram feitas por domicílio, e não por pessoa, e equivaleram ao mesmo valor de uma bagagem perdida por uma companhia aérea no Brasil ou menos, de acordo com a jurisprudência dos tribunais brasileiros.

Requerentes se alegram com a decisão

Vários dos reclamantes compareceram à audiência em maio, em Roterdã, onde os advogados argumentaram que é necessário litigar contra a Braskem nos tribunais holandeses, onde a empresa tem sua sede europeia.

Maria Rosangela Ferreria da Silva compareceu e disse ao tribunal que ela e sua família haviam perdido o senso de identidade quando seu bairro desmoronou e ela e sua família foram obrigadas a se mudar. Ela perdeu a mãe pouco tempo depois e, desde então, vem lutando por justiça.

Ela disse: "Eu diria que a justiça foi feita. Graças a Deus, se eu acordar com essa notícia, serei a mulher mais feliz do mundo. Será meu melhor presente, adepois de estar viva, é isso.

"O Deus em quem confio nunca me abandonou. Então, eu diria que 'a justiça foi feita', e agradeço a Deus."

A decisão rejeitou todos os argumentos da Braskem contra a jurisdição dos tribunais holandeses - e um pedido de apelação. O tribunal declarou: "As reivindicações contra a Braskem SA e as entidades da Braskem NL têm um delicada delicada. No processo principal, além da Braskem SA, as entidades da Braskem NL, como parte do grupo Braskem, foram consideradas conjunta e solidariamente responsáveis pelas (mesmas) consequências danosas dos terremotos (como resultado das atividades de mineração) com base na lei de responsabilidade ambiental em geral e na doutrina da responsabilidade indireta do poluidor em particular, de acordo com os autores da ação no Brasil. Nesse sentido, as reivindicações contra as entidades Braskem NL, de um lado, e Braskem SA, de outro, estão inextricavelmente ligadas."

E acrescentou: "O grupo Braskem, e com isso a Braskem SA como controladora do grupo, optou por localizar as entidades que tomam as decisões financeiras, e sua sede europeia, em Roterdã. Nesse contexto, a Braskem SA poderia razoavelmente prever que, se não apenas essas entidades, mas também ela própria - como principal acionista - fosse processada, isso poderia acontecer perante esta Corte."

O sucesso jurisdicional é o mais recente em uma série de casos para os advogados da Pogust Goodhead - que recentemente ganharam um recurso para que o caso de 200.000 vítimas do pior desastre ambiental do Brasil, o desastre da barragem de Mariana, fosse litigado nos tribunais do Reino Unido. Eles também garantiram acordos em relação a reclamantes da VW e da British Airways.

Agora que a reivindicação foi aceita para ser ouvida na Holanda, espera-se que o caso entre na fase de mérito em que a responsabilidade é estabelecida.

É hora de a Braskem fazer a coisa certa

O sócio da Pogust Goodhead, Marc Krestin, disse: "Levar esse caso aos tribunais holandeses é fazer justiça para as pessoas que perderam tudo em decorrência das atividades de mineração da Braskem. Elas perderam suas casas, sua comunidade e seu senso de identidade devido ao fato de essa grande corporação tirar o que quer da terra e não pensar duas vezes no meio ambiente e nas pessoas ao seu redor que podem ser prejudicadas.

"Estamos aqui para garantir que isso não continue acontecendo.

"Agora pedimos que a Braskem tome nota dessa decisão, pare de negar a responsabilidade por suas ações e faça a coisa certa por todos aqueles que foram prejudicados."

A Pogust Goodhead atua no caso em parceria com os escritórios de advocacia Neves Macieywski, Garcia e Advogados Associados, Omena Advocacia, Araújo e Máximo Advogados Associados e Lemstra Van der Korst.

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