'Está na hora da justiça': Processo civil contra a TÜV SÜD por causa do desastre da barragem de Brumadinho terá início em Munique

24 de setembro de 2021

O prefeito de Brumadinho declarou que "é hora de fazer justiça", pois a contagem regressiva começa antes da primeira audiência em uma ação civil histórica movida contra a TÜV SÜD pelas vítimas do desastre da barragem brasileira.

Na audiência, a TÜV SÜD será acusada de certificar uma barragem de rejeitos insegura como segura e de aplicar padrões de verificação de segurança que não correspondem aos padrões internacionais.

Ela ocorrerá em 28 de setembro de 2021, às 9h, na sala de audiências do Tribunal Regional Superior, em Munique.

Desastre da barragem de Brumadinho

O rompimento da barragem em 2019 liberou cerca de 13 milhões de metros cúbicos de lama de minério altamente tóxica, que irrompeu pelos escritórios da operação de mineração e atingiu em cascata as comunidades locais e os sistemas de água.

Isso causou um desastre humanitário e ambiental significativo e resultou na morte de 270 pessoas.

Avimar Barcelos, prefeito de Brumadinho, espera que esse processo finalmente proporcione alguma forma de justiça para sua comunidade.

Acusações contra a TÜV SÜD

Essa negligência permitiu que a operação continuasse da barragem e da minae da mina, o que acabou levando ao desastre.

Nossos advogados, que representam a comunidade de Brumadinho, declararam que a empresa tem "sangue nas mãos" e esperam que, ao ganhar o caso em nome de uma das vítimas do desastre, eles estabeleçam um precedente que significará que mais de 1.200 reclamantes adicionais que perderam familiares ou foram diretamente afetados pelo rompimento da barragem poderão reivindicar indenizações contra a empresa.

Pedro Martins, sócio, disse: "Estamos agora na porta legal da TÜV SÜD na Alemanha, e agora eles têm que contar com o que fizeram a milhares de quilômetros de distância.

"Nossas evidências mostram que a TÜV SÜD certificou essa barragem como segura quando ela não era segura. Isso era um fato que eles sabiam, mas ignoraram - uma combinação desprezível de corrupção corporativa e negligência intencional que levou diretamente a 270 mortes e à destruição de comunidades, famílias, meios de subsistência e um ambiente precioso."

Comentário de Prefeito de Brumadinho

Barcelos disse: "É hora de fazer justiça. Nosso município não recebeu a assistência necessária para indenizar as famílias ou para reconstruir sua economia, seja por meio do fortalecimento dos agricultores rurais, do turismo ou da atração de novas empresas.

"Brumadinho está tentando se reerguer moral, social e economicamente e até hoje estamos fazendo tudo sozinhos. Mas estou muito confiante na justiça alemã.

"Brumadinho sofreu com a morte de mais de 270 pessoas e terá que lidar com todo esse trauma para sempre. Mas as entidades corporativas responsáveis ficaram impunes. O que aconteceu não pode ser desfeito, mas esperamos e rezamos para que o caso na Alemanha possa proporcionar alguma forma de justiça para o nosso povo."

A parceria de Pogust Goodhead com Manner Spangenberg

Jan Erik Spangenberg, do escritório de advocacia alemão Manner Spangenberg, fez parceria com a Pogust Goodhead no caso e disse: "Será um alívio para as vítimas quando elas finalmente puderem ter seu dia no tribunal. As vítimas exigem e merecem uma determinação clara da responsabilidade pela perda de seus entes queridos."

"Os documentos mostram que a barragem não atendeu aos padrões mínimos de segurança em duas de quatro categorias. Em um caso, a probabilidade medida de falha foi três vezes maior do que o limite aceitável.

"É incrivelmente difícil entender como uma empresa pôde desconsiderar essas descobertas. Eles sabiam que os trabalhadores continuariam a trabalhar na mina e que a população de Brumadinho continuaria a levar sua vida cotidiana diretamente abaixo da barragem e no caminho da onda de lama tóxica."

A audiência de um dia, aberta à mídia e ao público em geral, será realizada na Sala de Audiências do Tribunal Regional Superior de Munique, na Prisão de Stadelheim(JVA Stadelheim, Processo nº 28 O 14821/19) em 28 de setembro de 2021, às 9h CEST. Espera-se que outras datas para a inquirição de testemunhas sejam estabelecidas posteriormente. O tribunal sugeriu anteriormente um processo de mediação, que foi rejeitado pela TÜV SÜD em outubro de 2020.

Histórico do caso

Em 25 de janeiro de 2019, uma barragem na mina Córrego do Feijão, perto de Brumadinho, no leste do Brasil, entrou em colapso, resultando no que mais tarde seria conhecido como o desastre da barragem de Brumadinho.

A barragem era usada para armazenar rejeitos de minério de ferro, um resíduo tóxico das operações de mineração da gigante brasileira Vale SA. O rompimento da barragem fez com que 13 milhões de metros de lama tóxica atravessassem os escritórios da operação de mineração da Vale antes de cair em cascata nas comunidades abaixo.

Como parceira contratada da Vale para a certificação de segurança da operação, a reclamação alega que a TÜV SÜD foi uma "assistente complacente da empresa de mineração", influenciada a certificar a barragem como segura porque queria "manter os negócios com esse importante cliente [Vale]".

As investigações do Ministério Público Brasileiro mostraram que a TÜV SÜD nunca poderia ter realizado a certificação de segurança adequada, pois não possuía a documentação completa dos trabalhos realizados antes de sua contratação - época em que a capacidade da barragem foi aumentada 11 vezes, até uma altura de 86 metros, adicionando cada vez mais pressão à barragem.

Os requerentes alegam que houve correspondência entre a Vale e a TÜV SÜD em maio de 2018, na qual os funcionários perguntaram se a TÜV SÜD perderia seus negócios com a Vale se negasse a segurança de uma das muitas lagoas de sedimentação pertencentes à Vale.

Nas investigações do Ministério Público brasileiro, também foi constatado que a TÜV SÜD aplicou padrões de verificação de segurança que não correspondiam aos padrões internacionais. Eles usaram padrões de segurança que foram descritos como "ajustes de mercado", o que significa que, em comparação com os padrões internacionais, foram aplicados padrões de segurança mais baixos.

Litígio no Brasil

Os principais litígios relacionados a desastres ambientais no Brasil são extremamente ineficientes. A reclamação afirma que os reclamantes não podem acessar a justiça adequada no Brasil porque "o sistema jurídico local é totalmente ineficaz, o que pode levar a décadas de espera por uma decisão". Eles também não podem acessar a justiça da Vale.

No entanto, a má conduta da TÜV SÜD significa que ela pode ser responsabilizada nos tribunais alemães em sua sede corporativa em Munique para indenizar as vítimas por danos de acordo com a legislação brasileira aplicável.

Tanto os promotores alemães quanto os brasileiros estão investigando separadamente os papéis da Vale e da TÜV SÜD no desastre sob o ponto de vista criminal. Entre as pessoas que estão sendo investigadas está um diretor alemão da TÜV SÜD, que era o gerente responsável no Brasil, e quatro especialistas da empresa.

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