Nas últimas duas semanas, estive no centro das negociações climáticas na COP28 em Dubai, Emirados Árabes Unidos. Aqui estão cinco coisas que aprendi enquanto estive lá - desde a hipocrisia de tirar o fôlego das grandes empresas até a batalha para que os povos indígenas sejam ouvidos.
1. Defesa dos direitos indígenas
Viajei para a COP28 com várias delegações indígenas e de direitos humanos. Isso incluiu Txai Suruí, uma jovem ativista climática indígena que falou na abertura da COP26 em Glasgow, e sua mãe Neidinha Suruí, uma ativista ambiental sênior.
Também tive o prazer de ver Tapi Yawalapíti, chefe do povo Yawalapíti e chefe geral do povo Xingu no Brasil. A Terra Indígena do Xingu é a maior terra indígena do mundo, com 16 grupos indígenas diferentes e mais de 120 aldeias. Tapi está carregando o peso do mundo em suas costas. Ele continua lutando para proteger a maior terra indígena do mundo e evitar as mudanças climáticas.
Encontrei-me com o fotógrafo e cineasta Piratá Waurá. Piratá e eu nos conhecemos há muitos anos e tenho orgulho de tê-lo treinado no Projeto Jovem Embaixador Brasil. Fundei o YAPB em 2020, que é um programa de defesa que treina indígenas. Piratá estava expondo seu trabalho em parceria com o People's Palace Project. Seu trabalho é extremamente importante porque destaca a resiliência de comunidades ameaçadas e mostra a vida na comunidade. Você pode ver suas fotografias aqui.
Entender melhor os desafios dos povos indígenas nos ajuda a oferecer caminhos para proteger seus direitos em meio às mudanças climáticas.
2. Destacar a hipocrisia
Entre os muitos estandes e eventos corporativos, a hipocrisia nunca esteve longe da superfície na COP28. A Braskem, uma das maiores empresas petroquímicas do mundo, possuía dois painéis no pavilhão brasileiro.
Ao mesmo tempo, uma mina de sua propriedade está prestes a desabar em Maceió, Brasil. Enquanto eles realizavam seu painel, milhares de famílias foram forçadas a fugir de suas casas - sem saber se algum dia poderão voltar. Apesar dos grandes compromissos assumidos por empresas como a Braskem, a realidade dos danos ambientais muitas vezes contradiz suas promessas. No final, a Braskem cancelou os painéis.
Devemos tomar medidas coletivas contra essas práticas de lavagem verde. Fiquei feliz em divulgar a verdade sobre a falta de sinceridade de algumas empresas brasileiras presentes no evento.
3. A importância da colaboração
Na COP28, pude ver os lobistas do petróleo em ação. Isso revelou a dinâmica do poder no cenário da transição energética. A promoção de uma "transição justa" não se alinhava com o que observei na prática. Em vez disso, testemunhei a deturpação desse conceito para defender o injustificável: a perpetuação dos setores de petróleo e gás.
Há muitos caminhos em potencial para nossas ações futuras na Pogust Goodhead. Elas vão desde processos judiciais contra a lavagem verde até a defesa das comunidades afetadas. Eu me reuni com a organização beneficente de direito ambiental ClientEarth e com a World Youth for Climate Justice, uma campanha que ajudei a lançar.
A construção de relacionamentos sólidos com esses importantes participantes nos ajuda a enfrentar as mudanças climáticas juntos. Ao nos unirmos, podemos responsabilizar as empresas multinacionais.
4. O papel do setor jurídico
O ritmo das negociações gerais no evento foi lento, mas o poder da lei para acelerar a mudança para um futuro mais sustentável foi um tema central do meu tempo na COP28. Um evento realizado pela OAB, pela American Bar Association e pela The Law Society of England and Wales discutiu como os advogados podem enfrentar a crise climática.
Durante esse evento, ficou evidente que o litígio climático está se expandindo. Ele tem sido mais utilizado para responsabilizar as empresas por práticas não alinhadas com o Acordo de Paris. Na Pogust Goodhead, podemos desempenhar um papel fundamental na assessoria a clientes que desejam ampliar suas vozes nessa arena crítica.
Também participei do lançamento da "Bancada pelo Planeta". Célia Xakriabá, deputada indígena e ativista do povo Xakriabá do Brasil, lançou a campanha legal. O evento reuniu parlamentares ambientalistas de todo o mundo. Eles discutiram como proteger o clima, a biodiversidade e os direitos dos povos indígenas e tradicionais.
5. O destaque do Brasil na COP28
Durante a COP28, o Brasil se destacou com uma das maiores delegações. Isso reflete potencialmente o novo governo do Presidente Lula e o anúncio da COP30, que será realizada em Belém, Brasil, em 2025. O retorno do Brasil ao debate climático global representa um novo cenário de oportunidades nas negociações. Ele pode tomar novos rumos como resultado das demandas do Sul Global e para o cenário de litígio climático, já que o Brasil continua sendo uma jurisdição fértil para esse tipo de estratégia.
Durante as duas semanas que passei na COP28, meu foco foi claro: esclarecer o tratamento dado pelas corporações globais às comunidades indígenas e tradicionais vulneráveis do Brasil e chamar a atenção para a hipocrisia predominante no evento. Vou me esforçar para garantir que continuemos a fazer parte das negociações climáticas, nas quais a Pogust Goodhead contribui para eventos e articulações, estabelece novas parcerias e apoia os clientes em suas lutas.
Felipe Hotta é sócio da Pogust Goodhead. Ele gerencia o departamento LATAM da empresa no Brasil. Ele fornece gerenciamento e liderança para a equipe e apoia as operações e a estratégia de negócios.