13 de dezembro de 2023
13 de dezembro de 2023

Felipe Hotta: '5 coisas que aprendi na COP28'

Felipe Hotta
Felipe Hotta
Felipe Hotta na COP28
Felipe Hotta
Felipe Hotta

Nas últimas duas semanas, estive no centro das negociações climáticas na COP28 em Dubai, Emirados Árabes Unidos. Aqui estão cinco coisas que aprendi enquanto estive lá - desde a hipocrisia de tirar o fôlego das grandes empresas até a batalha para que os povos indígenas sejam ouvidos.

1. Defesa dos direitos indígenas

Viajei para a COP28 com várias delegações indígenas e de direitos humanos. Isso incluiu Txai Suruí, uma jovem ativista climática indígena que falou na abertura da COP26 em Glasgow, e sua mãe Neidinha Suruí, uma ativista ambiental sênior.

Também tive o prazer de ver Tapi Yawalapíti, chefe do povo Yawalapíti e chefe geral do povo Xingu no Brasil. A Terra Indígena do Xingu é a maior terra indígena do mundo, com 16 grupos indígenas diferentes e mais de 120 aldeias. Tapi está carregando o peso do mundo em suas costas. Ele continua lutando para proteger a maior terra indígena do mundo e evitar as mudanças climáticas.

Encontrei-me com o fotógrafo e cineasta Piratá Waurá. Piratá e eu nos conhecemos há muitos anos e tenho orgulho de tê-lo treinado no Projeto Jovem Embaixador Brasil. Fundei o YAPB em 2020, que é um programa de defesa que treina indígenas. Piratá estava expondo seu trabalho em parceria com o People's Palace Project. Seu trabalho é extremamente importante porque destaca a resiliência de comunidades ameaçadas e mostra a vida na comunidade. Você pode ver suas fotografias aqui.

Entender melhor os desafios dos povos indígenas nos ajuda a oferecer caminhos para proteger seus direitos em meio às mudanças climáticas.

2. Destacar a hipocrisia

Entre os muitos estandes e eventos corporativos, a hipocrisia nunca esteve longe da superfície na COP28. A Braskem, uma das maiores empresas petroquímicas do mundo, possuía dois painéis no pavilhão brasileiro.

Ao mesmo tempo, uma mina de sua propriedade está prestes a desabar em Maceió, Brasil. Enquanto eles realizavam seu painel, milhares de famílias foram forçadas a fugir de suas casas - sem saber se algum dia poderão voltar. Apesar dos grandes compromissos assumidos por empresas como a Braskem, a realidade dos danos ambientais muitas vezes contradiz suas promessas. No final, a Braskem cancelou os painéis.

Devemos tomar medidas coletivas contra essas práticas de lavagem verde. Fiquei feliz em divulgar a verdade sobre a falta de sinceridade de algumas empresas brasileiras presentes no evento.

3. A importância da colaboração

Na COP28, pude ver os lobistas do petróleo em ação. Isso revelou a dinâmica do poder no cenário da transição energética. A promoção de uma "transição justa" não se alinhava com o que observei na prática. Em vez disso, testemunhei a deturpação desse conceito para defender o injustificável: a perpetuação dos setores de petróleo e gás.

Há muitos caminhos em potencial para nossas ações futuras na Pogust Goodhead. Elas vão desde processos judiciais contra a lavagem verde até a defesa das comunidades afetadas. Eu me reuni com a organização beneficente de direito ambiental ClientEarth e com a World Youth for Climate Justice, uma campanha que ajudei a lançar.

A construção de relacionamentos sólidos com esses importantes participantes nos ajuda a enfrentar as mudanças climáticas juntos. Ao nos unirmos, podemos responsabilizar as empresas multinacionais.

O ritmo das negociações gerais no evento foi lento, mas o poder da lei para acelerar a mudança para um futuro mais sustentável foi um tema central do meu tempo na COP28. Um evento realizado pela OAB, pela American Bar Association e pela The Law Society of England and Wales discutiu como os advogados podem enfrentar a crise climática.

Durante esse evento, ficou evidente que o litígio climático está se expandindo. Ele tem sido mais utilizado para responsabilizar as empresas por práticas não alinhadas com o Acordo de Paris. Na Pogust Goodhead, podemos desempenhar um papel fundamental na assessoria a clientes que desejam ampliar suas vozes nessa arena crítica.

Também participei do lançamento da "Bancada pelo Planeta". Célia Xakriabá, deputada indígena e ativista do povo Xakriabá do Brasil, lançou a campanha legal. O evento reuniu parlamentares ambientalistas de todo o mundo. Eles discutiram como proteger o clima, a biodiversidade e os direitos dos povos indígenas e tradicionais.

Célia Xakriabá lança a campanha Bancada pelo Planeta

5. O destaque do Brasil na COP28

Durante a COP28, o Brasil se destacou com uma das maiores delegações. Isso reflete potencialmente o novo governo do Presidente Lula e o anúncio da COP30, que será realizada em Belém, Brasil, em 2025. O retorno do Brasil ao debate climático global representa um novo cenário de oportunidades nas negociações. Ele pode tomar novos rumos como resultado das demandas do Sul Global e para o cenário de litígio climático, já que o Brasil continua sendo uma jurisdição fértil para esse tipo de estratégia.

Felipe Hotta na COP28

Durante as duas semanas que passei na COP28, meu foco foi claro: esclarecer o tratamento dado pelas corporações globais às comunidades indígenas e tradicionais vulneráveis do Brasil e chamar a atenção para a hipocrisia predominante no evento. Vou me esforçar para garantir que continuemos a fazer parte das negociações climáticas, nas quais a Pogust Goodhead contribui para eventos e articulações, estabelece novas parcerias e apoia os clientes em suas lutas.

Felipe Hotta é sócio da Pogust Goodhead. Ele gerencia o departamento LATAM da empresa no Brasil. Ele fornece gerenciamento e liderança para a equipe e apoia as operações e a estratégia de negócios.

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